Para
compreender as origens das diferenças de género é o do estudo da socialização
de género, a aprendizagem dos papéis de género com o apoio dos agentes sociais,
tais como a família e os meios de comunicação. Esta abordagem estabelece uma
distinção entre o sexo biológico e género social. As crianças, através do
contacto com diversos agentes de socialização, primários e secundários,
interiorizam progressivamente as normas e expetativas sociais que correspondem
ao seu sexo. As diferenças de género não são determinadas biologicamente, mas
geradas culturalmente. Neste sentido, existem desigualdades de género, pois os
homens e as mulheres são socializados em papéis diferentes.
Os funcionalistas têm favorecido as
teorias da socialização do género, pois vêm os rapazes e as raparigas como
aprendizes dos “papéis sexuais” e das identidades masculina e feminina,
masculinidade e feminilidade, que os acompanham. Rapazes e raparigas são
guiados neste processo por sanções positivas e negativas, forças socialmente
aplicadas que recompensam ou restringem o comportamento. Um rapaz poderá ser
positivamente sancionado no seu comportamento, por exemplo, “És um menino muito
corajoso!” ou receber uma sanção negativa “Os meninos não brincam com bonecas”.
Estes acompanhamentos positivos e negativos ajudam os rapazes e raparigas na
aprendizagem dos papéis sexuais que se espera virem a desempenhar e a
conformarem-se com eles. Se um individuo desenvolve práticas de género que não
correspondem ao seu sexo biológico, isto é, comportamentos desviantes,
procura-se a explicação numa socialização inadequada ou irregular. Segundo esta
perspetiva funcionalista, os agentes de socialização contribuem para a
manutenção da ordem social ao supervisionar a socialização natural do género
nas novas gerações.
Esta interpretação rígida dos papéis
sexuais e da socialização tem sido alvo de críticas em muitos aspetos. Muitos
autores afirmam que a socialização do género não é um processo inerentemente
harmonioso; diferentes agentes como a família, a escola e o grupo de amigos,
poderão entrar em conflito entre si. Além disso, as teorias da socialização
ignoram a capacidade dos indivíduos para rejeitar, ou modificar, as expetativas
sociais que envolvem os papéis sexuais.
É
importante lembrar que os seres humano não são objetos passivos ou recetores
inquestionáveis de uma “programação” do género, como alguns sociólogos
sugeriram. As pessoas são agentes ativos que criam e modoficam papéis para si
mesmas. Embora seja necessário algum cepticismo relativamente a qualquer adoção
na globalidade da teoria dos papéis sexuais, muitos estudos revelam que as
identidades do género são, em certa medida, fruto das influências sociais.
As
influências sociais na identidade de género fluem de canais muito diversificados;
até os pais que se dedicaram a educar os filhos de uma forma “não sexista”
consideram difícil combater os padrões existentes de aprendizagem do género. Os
estudos sobre a interação progenitor-criança revelaram, por exemplo, diferenças
distintas no tratamento dos rapazes e das raparigas, mesmo quando os pais
acreditam ter a mesma reacção com ambos. Os brinquedos, os livros ilustrados e
os programas de televisão para crianças tendem a destacar as diferenças entre
os atributos masculinos e femininos. Embora a situação esteja, de certa forma,
a mudar, geralmente as personagens masculinas excedem em número as femininas na
maior parte da leitura infantil, contos de fadas, programas de televisão e
filmes. As personagens masculinas tendem a desempenhar papéis mais ativos e
aventureiros, enquanto as femininas são representadas como figuras passivas,
expectantes e orientadas para as atividades domésticas.
A
socialização do género é evidentemente muito forte e desafiá-la pode ser
incómodo. Uma vez “conferido” um género, a sociedade espera que os indivíduos
desempenhem a sua função como “homens” e “mulheres”. É no quotidiano que estas
expetativas se cumprem e se reproduzem.
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